UESSBA fecha as portas e deixa alunos sem diploma; grupo prestou queixa

Imagine ingressar em uma instituição de ensino superior, ser aprovado em todas as disciplinas e superar o temido Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para não conseguir ter acesso ao seu diploma e perder inúmeras oportunidades no mercado de trabalho por isso.

A situação, que parece mais um pesadelo de universitário, é a realidade de centenas de concluintes da Unidade de Ensino Superior do Sertão da Bahia (UESSBA), que foi descredenciada em 2018 pelo Ministério de Educação (MEC) e, nos últimos dois anos, vem acumulando desculpas com os discentes, que chegaram a pagar pelo papel do diploma, mas nunca tiveram ele em mãos.

Nas desculpas dadas aos estudantes que cobram o documento de certificação profissional, há diversidade e criatividade por parte dos gestores da instituição. A UESSBA já chegou afirmar que malotes com os diplomas teriam sido enviados para os alunos, que a assinatura do responsável não poderia ser feita porque ele estava no Ceará e até que a entrega do diploma dependia apenas da emissão destes pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), que nada tem a ver com as pendências da faculdade em Irecê. De acordo com as pessoas ouvidas pelo CORREIO, a fila dos estudantes sem diploma cresceu e muito. Só no grupo de WhatsApp articulado para buscar a resolução do problema, já são 139 integrantes. Ao todo, estima-se que mais de 300 pessoas estejam com a mesma pendência.

Caso de polícia

Maik de Jesus, 27 anos, que cursou Administração na UESSBA e chegou a colar grau na instituição, a diretoria da faculdade vem enganando os alunos e adiando a entrega do documento desde 2018. “Mesmo com o descredenciamento, nos disseram que todos iam receber o diploma. Mas, depois de fazer a solicitação de diploma em junho de 2019, foram várias as desculpas que a diretoria da instituição nos deu para adiar essa entrega. Depois de tanta enrolação, fizemos b.o. na delegacia e alguns entraram com processo judicial, mas, até hoje, nada foi resolvido”, diz, mencionando o boletim de ocorrência contra a instituição.

A ausência do diploma pelo qual tanto batalhou impede que Maik dê o próximo passo na vida profissional. “Eu trabalho no banco, mas eles sempre pedem pra eu entregar o diploma. Hora ou outra, tem sempre um processo seletivo para cargos melhores que não posso conseguir por conta da falta desse documento. Então, isso tem atrasado demais a minha carreira e eu não consigo crescer profissionalmente porque não recebo um documento que tenho direito de pegar”, diz.

Quem também vem sofrendo com problemas causados pela ausência do diploma é Liliane Barretos, 25, que cursou administração na UESSBA, concluiu o curso em 2019 e não conseguiu o documento até agora. “Tenho certificado, mas o que vale pro mercado de trabalho é o diploma e a gente não consegue resposta da instituição quanto a isso. Meu gerente fala pra mim em todas as reuniões do meu trabalho que meu curso não valeu de nada, que isso me impede de crescer. E a gente acaba abrindo mão de arriscar concursos e novas propostas por não ter como provar o conhecimento que temos”, afirma.

Márcia Amorim, 39, que fez pedagogia na instituição e só conseguiu colar grau, conta que tentou contato com os diretores, também ouviu desculpas e chegou a ser ameaçada. “Eu corri atrás e ele me disse até que dependia da UFBA pra expedir o documento, o que a gente confirmou que era mentira porque eles não tiram diplomas de outras instituições. Depois, ligou ameaçando quem estava atrás disso. Aconteceu comigo e mais três colegas. Estou tentando correr atrás porque já perdi duas oportunidades de emprego e nem pós-graduação eu posso fazer porque não tenho como provar que sou graduada”, relata.

Segundo Márcia, quem teria a ameaçado foi o diretor da faculdade, Fábio de Sousa, que foi procurado pela nossa reportagem através do número em que atendia aos alunos, mas não atendeu ou retornou as nossas ligações.

Venda de diplomas

De acordo com informações do Sindicato das Entidades Mantenedoras do Ensino Superior da Bahia (Semesb), nos últimos dez anos, apenas quatro instituições foram descredenciadas pelo MEC e precisaram interromper suas atividades e realizar a transferência assistida dos discentes para outras universidades. O que, normalmente, faz com que faculdades sejam descredenciadas é o ato de descumprimento de preceitos legais para instituições do tipo.

No caso específico da UESSBA, Carlos Joel Pereira, presidente da Semesb, explica que a faculdade estava ligada com grupos que comercializavam diplomas.

Além de crimes graves como da UESSBA, há outros motivos para um encerramento de atividades de uma instituição. Uma das principais causas é a percepção de uma qualidade duvidosa do ensino da instituição, que é aferida em ciclos de 3 ou 4 anos pelo ministério através de avaliações como o Índice Geral de Cursos (IGC), que é um indicador de qualidade dos cursos de graduação e pós-graduação que classifica os cursos em uma escala de 1 a 5. Se o curso tiver nota inferior a três, é realizada uma supervisão que pode determinar o descredenciamento deste.

Em todo o terrítório baiano, existem 440 cursos de ensino superior espalhados por 274 cidades. Para ter uma ideia dos problemas jurídicos em aberto que são oríundos do descredenciamento de intituições, a reportagem do CORREIO entrou em contato com o Ministério Público do Estado da Bahia (MP) para obter o balanço de quantas universidades foram acionadas pelo MP por conta do encerramento obrigatório de suas atividades, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.

Fonte: Correio 24h