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Começaram na última sexta (16), as campanhas eleitorais que decidirão o futuro de Irecê pelos próximos 4 anos e, com isso, devemos ficar alertas sobre como exercer o nosso dever enquanto cidadãos. A política, ao longo da história, tem sido palco de inúmeras heranças familiares. De monarquias absolutistas a democracias modernas, a transmissão do poder de geração em geração e parece ser uma tentação irresistível no nosso atual cenário político, não apenas para aqueles que estão inseridos nele, mas também para os que o recebem como um direito quase divino. É nessa herança que reside um dos maiores perigos para a democracia: a perpetuação de dinastias políticas que, muitas vezes, não se baseiam na competência, mas na simples reprodução de um sobrenome conhecido.
Vamos voltar no tempo para entender as armadilhas dessa prática. Na Roma Antiga, as famílias patrícias dominavam o Senado e, por consequência, toda a República. A concentração de poder nas mãos de poucas famílias não apenas perpetuou a corrupção, como também levou ao colapso do sistema republicano e ao surgimento do Império, onde o poder absoluto nas mãos de uma única pessoa resultou em tiranias, perseguições e guerras civis. Essa lição é um lembrete de que o poder não deve ser herdado, mas conquistado pelo mérito.
No Brasil, esse fenômeno também se faz presente, e não é de hoje. Desde o Império, passando pela República Velha, até os dias atuais, assistimos à construção de verdadeiras dinastias políticas que se perpetuam no poder por gerações. Essas famílias, ao invés de renovarem a política com novas ideias e perspectivas, tendem a manter o status quo, protegendo seus interesses e perpetuando uma política de compadrio e favorecimento.
Um exemplo contemporâneo claro é o caso dos filhos, sobrinhos, primos, esposas, maridos, cunhados e cunhadas de políticos que, sem qualquer experiência prévia ou mérito comprovado, herdam o capital político de seus parentes. Votamos em nomes, não em ideias. Votamos em compadrios, não em projetos. Esse comportamento, muitas vezes inconsciente, revela a superficialidade com que tratamos a política e a falta de responsabilidade com o nosso próprio futuro.
Não é exagero dizer que esse tipo de votação representa um verdadeiro suicídio democrático. A crença de que um filho de político, por exemplo, herdará automaticamente as habilidades e a visão de seu progenitor é, no mínimo, ingênua. A história nos mostra que, na maioria das vezes, esses herdeiros são marionetes que perpetuam políticas falhas, incapazes de trazer a renovação necessária para enfrentar os desafios de um mundo em constante mudança.
O filósofo político francês Montesquieu já alertava, no século XVIII, sobre os perigos da concentração de poder em poucas mãos, afirmando que "todo homem que tem poder é levado a abusar dele; vai até onde encontra limites". Quando o poder é transmitido dentro de uma família, esses limites se tornam nebulosos, e a noção de serviço público se transforma em um direito hereditário, algo profundamente antidemocrático.
O voto, então, é nossa arma mais poderosa contra essa perpetuação. Votar em parentes de políticos, sem uma análise crítica, é renunciar ao nosso direito de escolher representantes que realmente nos representem, que tragam novas ideias e que estejam comprometidos com o bem comum, e não com a manutenção de um legado familiar. É preciso lembrar que, em uma democracia, o poder não é um direito adquirido, mas uma responsabilidade concedida pelo povo. Se queremos um futuro melhor, devemos rejeitar o comodismo das heranças políticas e buscar, com coragem, a verdadeira renovação democrática.
*Chal Emedrón, pseudônimo de Carlos Medeiros, licenciado em Letras pela Universidade Federal da Bahia, apaixonado por cultura pop e comportamento humano.