Opinião: A polêmica da Casa Verde é a ponta do iceberg chamado especulação imobiliária

As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do Irecê Notícias. Os conteúdos apresentados na seção de Opinião são pessoais e podem abordar uma variedade de pontos de vista.

Vamos esquecer a história e essa conversa de que o prédio verde, onde funcionava a prefeitura, não tinha valor histórico nem uma arquitetura que merecesse ser preservada. Mas falemos sobre a transformação urbana e econômica em Irecê nos últimos 20 anos.

O centro comercial expandiu-se muito, e onde eram residências, transformam-se em pontos comerciais. O que era longe, hoje já não é. Ou é longe?


Irecê tem 31% do PIB do território; mais de 80% da economia é baseada em serviços (educação, saúde, bancos e produtos). A cidade com o segundo maior PIB é Xique-Xique, com 9,2%.


Todas as cidades da região dependem de Irecê de alguma forma, seja para trabalhar, ir a clínicas, estudar ou comprar algum material que só se acha na antiga Terra do Feijão.

Todo esse desenvolvimento e modernização aumentaram muito o custo de vida da cidade. O aluguel é caro, mesmo em bairros distantes. Uma casa com dois quartos custa cerca de R$ 1200,00. Aluguéis mais em conta, apenas em bairros periféricos e com poucos serviços, isto é, não tem mercado nem farmácia, creches ou posto de saúde nas proximidades, por exemplo. O custo do transporte, nossa única opção é moto táxi, fica no mínimo R$ 14,00 por dia.

É mais vantajoso morar em Lapão ou São Gabriel, onde o aluguel é mais barato, e a passagem de ônibus custa R$ 5,00.

Mas o que isso tem a ver com a permuta feita entre a prefeitura e um empresário, que trocou o antigo prédio da prefeitura por um terreno do seu loteamento? A quem beneficia colocar os serviços do município em bairros de classe média?

Onde está o CAPS e a CEM? Onde está a Assistência Social? Onde ficará o Estádio de Futebol? Onde ficará a rodoviária? Tudo isso está e estará em bairros de classe média, valorizando mais os terrenos e beneficiando quem já é privilegiado.

E quem precisa desses serviços são as pessoas que têm carro, que têm plano de saúde?

Claro que não é papel do empresário pensar no bem-estar da população. Todo empresário pensa em como valorizar seu produto e gerar cada vez mais lucro.

Mas é obrigação dos políticos, prefeito e vereadores, pensar na qualidade de vida do povo que os elegeu. É urgente o crescimento da cidade, assim como é urgente o acesso das pessoas aos serviços públicos.

Não podemos chorar mais pelo leite derramado. O estádio vai virar arena, a nova prefeitura será muito longe, assim como é a secretária de assistência social e a CEM e o CAPS.

O plano de crescimento de Irecê não é para todos, exclui as pessoas que mais precisam de atenção do poder público.

Veja o exemplo do loteamento social, que sem planejamento foi colocado para depois do São Francisco, local que no plano diretor é destinado para construção da estação de tratamento de esgoto da cidade. Nem se deram o trabalho de ler o plano diretor (PD) que, pasmem, estavam revisando! Mudou para o Cocão, um lugar menos insalubre, porém distante. E fez isso depois de ex prefeito sinalizar do absurdo. E prefiro acreditar que foi falta de leitura do PD, porque jogar o povo para o esgotão sabendo seria maldade.

É preciso pensar o crescimento econômico simultaneamente ao desenvolvimento social. E para isso, é prioridade da próxima gestão consertar isso com mobilidade urbana de forma barata e segura para trazer acessibilidade e qualidade de vida. Seja para buscar os serviços públicos, para visitar o parente que mora em outro bairro ou ocupar ambientes de lazer.

Queremos mais acesso a cidade, uma Irecê para todas, todos e todes!

Por Cacá Bastos / Presidenta do PSOL Irecê