As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do Irecê Notícias. Os conteúdos apresentados na seção de Opinião são pessoais e podem abordar uma variedade de pontos de vista.
A produtora de filmes de animação japonesa Studio Ghibli, se tornou conhecida no ocidente como uma espécie de “Disney Oriental”, com filmes que abordam magia e universos fantásticos, com personagens femininas de destaque e cenas de contemplação que te faz refletir sobre as grandes questões da vida. Dessa maneira o estúdio foi construído ao redor de dois principais nomes, Hayao Miyazaki e Isao Takahata. Miyazaki, recentemente recebeu um bom destaque na mídia por ganhar seu segundo Oscar de melhor animação com o filme O Menino e a Garça (2023), tendo ganhado anteriormente pela A Viagem de Chihiro (2001), e sendo indicado em outras oportunidades.
Para a indicação da vez, decidi explorar um dos primeiros filmes da carreira de Miyazaki, O Serviço de Entregas da Kiki (1989). O filme começa estabelecendo seus conceitos fantásticos de forma mais mundana, com nossa protagonista, Kiki, observando o horizonte e voltando para casa, porém, sendo ela uma jovem bruxa, é chegado o dia dela sair da casa de seus pais para descobrir qual sua vocação mágica, como um adolescente buscando que carreira seguir na vida adulta, mas no caso dela, voando numa vassoura e possuindo um gato falante.
Kiki voa então pelo céu noturno até encontrar sua morada numa grande cidade, vivendo num quarto de uma padaria na qual ela vai estabelecer seu negócio, um serviço de entregas, já que sua grande habilidade até o momento era ser boa em voar. Miyazaki logo irá fazer da magia de voar uma profissão, onde através do amadurecimento de Kiki irá refletir sobre o processo de transformar seus grandes sonhos e fantasias em uma forma de trabalho, e levantando as perguntas: até que ponto e de qual maneira podemos nos divertir com esse tipo de emprego? Ele responde esses questionamentos tratando até de questões mais complexas como burnout, porém lidando de uma maneira impressionantemente sensível em um filme infantil do final dos anos oitenta.
Nessa jornada de autodescoberta, Kiki, irá interagir com todos os tipos de figuras, uma artista desleixada, um jovem inventor sonhador, uma vó dedicada por sua neta, e as pessoas que convive na padaria, todos aqueles que irão compartilhar suas visões de mundo e moldar o entendimento de Kiki sobre o papel que escolheu seguir, uma jornada da garotinha se tornando alguém responsável.
O processo de transformar a fantasia em algo cotidiano e o cotidiano no fantástico, com certeza é uma das grandes características da obra de Hayao Miyazaki, sendo O Serviço de Entregas da Kiki, uma ótima porta de entrada para sua incrível filmografia, e para os já iniciados, um bom filme para revigorar o repertório sobre o diretor.
*Gabriel Vinícius, cursa Cinema e Audiovisual no Centro Universitário Jorge Amado, aspirante a diretor e roteirista de cinema.